Dízimos e ofertas não são moedas de troca 

Dízimos e ofertas não são moedas de troca 

É com grande tristeza que já percebo há alguns anos como é crescente o número de testemunhos do tipo “dei X de oferta e recebi 10X”. Qualquer cristão com vivência mínima no evangelho tem um bom testemunho sobre os dízimos e ofertas, mas certamente cada caso é um caso, além disso não devem ser usados para constranger quem não oferta ou como moeda de troca. Podemos muito bem ser dizimista e ainda assim não recebermos a mais por isso.  

Sou dizimista há quinze anos e incentivo todos a serem também, no entanto, não posso deixar de passar minha visão sobre o assunto, principalmente percebendo que o famoso “evangelho da prosperidade” está mais vivo que nunca. Se não são feitas tantas pregações sobre o assunto, líderes evangélicos continuam pregando o “evangelho da prosperidade” na hora dos dízimos e ofertas, pregando até que Deus não pode agir em nossa vida financeira se não formos dizimistas, entre outros absurdos. O propósito deste texto é trazer um pouco de reflexão sobre como falamos dos dízimos, como o assunto é pregado em nossas igrejas para tomarmos o cuidado de não tropeçar nesta pedra. 

Leia também este estudo sobre o evangelho da prosperidade.



Trechos de Malaquias e Coríntios são utilizados para constranger as pessoas a ofertarem e darem o dízimo, e não para orientar. Neste texto quero expor minha decepção com líderes que insistem em mostrar que o dízimo é a chave para a “riqueza”. 

A primeira passagem clara sobre dízimos e ofertas que desejo citar é a de 2 Coríntios 9:7 – “Cada um contribua segundo tiver proposto no seu coração, NÃO COM TRISTEZA OU POR NECESSIDADE; porque Deus ama a quem dá com alegria”. 

A partir do momento que pregamos que alguém ganhou, ou ganhará, dez, sete, setenta vezes mais do que ofertou estamos motivando as pessoas a ofertarem por necessidade ou por ganância. Além disso, não há nenhuma referência bíblica que implica num retorno financeiro dos dízimos e ofertas. 

Entendo que os dízimos e ofertas são ações de gratidão que temos com Deus. Assim como oramos, jejuamos e lemos a bíblia, os dízimos e ofertas demonstram nosso coração voltado a agradar a Deus. Usamos nosso dinheiro – voluntariamente – para manter a igreja e seu trabalho missionário e não porque queremos receber mais, ser promovido ou sair de uma maldição. As maldições são quebradas por Jesus Cristo. 

A viúva pobre 

No trecho que lemos sobre a viúva pobre – Lucas 21 e Marcos 12:41 – não lemos qualquer tipo de “retribuição financeira”. Ao que tudo indica ela não ficou rica, nem foi promovida ou abriu um negócio de sucesso. Muitos pregadores implicam bênçãos relacionadas aos dízimos e ofertas. Basicamente se baseiam em Malaquias para dizer que Deus retribuirá dízimos e ofertas com bênçãos materiais. 

Em Lucas 18:11 e 12 lemos sobre a oração do fariseu que se orgulhava em ser dizimista, ao contrário do publicano. Será que não estamos nos comportando como este fariseu quando exaltamos o fato de sermos dizimistas? 

Malaquias 

Muitos pregadores usam Malaquias 3:8 para “amedrontarem” os fiéis. O texto diz “roubará o homem a Deus?”. O termo original em hebraico ‘qabah’ tem um significado mais de dúvida do que de roubo material.  

A manipulação fica ainda mais suja ao utilizar o versículo seguinte que diz “com maldição sois amaldiçoado”. Sabemos que Cristo nos tirou da maldição – Gálatas 3:13 – não pode um cristão sincero ser considerado maldito por não ofertar. Pode sim, deixar de ter muitas experiências positivas, mas não faz um amaldiçoado, nem perde a salvação por não dar o dízimo. 

Em  Malaquias 3:10 lemos o trecho “para que haja mantimento”. O termo em hebraico “tereph” faz referência à caridade, como em Deuteronômio 26:12. Para que haja mantimentos para caridade. Por fim, o termo “fazei prova de mim”, é usado como se pudéssemos exigir algo de Deus como “sou dizimista agora, Deus, haja na minha vida”. O termo original em hebraico, “bachan” é interpretado como examinar. Seria provar a Deus no sentido de podermos observar seu agir e não colocá-lo à prova, como se isso fosse possível. 

Malaquias 3:11 é claro quando diz “por causa DE VÓS repreenderei o devorador e ele não destruirá”. Como podemos ver o agir de Deus ocorre por amor a nós e não por consequência de sermos dizimistas ou ofertantes. O termo original de devorador no hebraico usado aqui é “akal” e quer dizer consumo excessivo, compulsivo. 

Separando dízimos e ofertas 

A nossa prática de dar dízimos e ofertas deve ser continuidade de nosso culto racional, como Paulo orienta em Romanos 12:1. Por isso, o ideal é que o cristão separe seus dízimos e ofertas antes de sair de casa, não deixe para decidir o que vai ofertar na hora, no calor da emoção, por sentimentalismo. Cabe a nós, compreender que o momento de dízimos e ofertas é uma oportunidade de um relacionamento estreito e próximo ao nosso criador, e não uma oportunidade de ficar rico. Da próxima vez que separar seus dízimos e ofertas, pense nisso: qual a sua motivação? Conseguir uma retribuição ou gratidão? 

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2 comentários sobre “Dízimos e ofertas não são moedas de troca 

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